“o santo”, o “esperançoso”, o “bem-amado” foram os cognomes com que a história o baptizou.

quem foi este príncipe real, cujos rastos se encontram espalhados por lisboa, e que desvendam a lenda de uma das personagens mais icónicas da história de portugal?

O Príncipe Real nasceu no ano de 1837, no século da mudança, onde o progresso e a tradição se combatiam numa batalha que mudou a sociedade. A sua mãe era a Rainha de Portugal, D. Maria II e o seu pai D. Fernando II. Os valores e elevados padrões morais em que nasceu nunca o deixariam e mantê-lo-iam ancorado ao longo da sua vida, tornando-o na bússula moral do país.

Nasceu na cidade de Lisboa, no Palácio das Necessidades, com o nome D. Pedro V, o primeiro príncipe a nascer nesta cidade depois do longo exílio da Família Real no Brasil. Foi neste Palácio lisboeta com vista para o rio Tejo, que viveu toda a sua vida: onde nasceu, cresceu, casou e morreu.

É impossível falar do Príncipe Real sem recordar o seu carinho especial pelo Palácio da Pena, no meio da Serra de Sintra e a apenas 30 km de Lisboa. Este Palácio encantado, construído por D. Fernando II, era um recanto de frescura. Escondido entre as árvores da Serra e abundante em fauna e flora tão variadas, era o sítio ideal para passar os verões. Os jardins do palácio são ainda guardiões das memórias felizes ali deixadas pelo Príncipe Real, testemunhas fiéis dos passeios demorados que dava com o amor da sua vida, a Rainha D. Estefânia, de mãos dadas e a partilhar segredos e preocupações acerca do futuro de Portugal.

A Rainha D. Estefânia apareceu na sua vida como uma lufada de ar fresco, doce e primaveril, enchendo de luz os cantos escuros da sua mente. Era um anjo com um coração de ouro, como não raras vezes a descreviam, e partilhava com D. Pedro um amor vivo, daqueles eternos e incondicionais. Como todas as pedras raras e cometas brilhantes que vagueiam a Terra, a vida de Estefânia foi efémera. Morreu de difteria apenas 14 meses depois do seu casamento sem deixar herdeiros, entristecendo para sempre o coração de D. Pedro. Inspirado pela bondade de Estefânia e pela sua dedicação às crianças, D. Pedro fundou em Lisboa um hospital em seu nome.

D. Pedro V continuou a sua vida, dedicando-se incansavelmente ao desenvolvimento do país. Fundou também o Curso Superior de Letras (que depois se chamou Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), em reflexo da importância que atribuía à educação e do seu amor pela literatura, escolhendo pessoalmente alguns professores e assistindo a aulas sempre que possível.

Manteve-se sempre fiel aos seus princípios, mesmo nos tempos mais difíceis. Quando se abateu sobre Lisboa um surto de cólera e de febre amarela, a cidade foi evacuada. A Família Real e os membros da aristocracia tiveram que fugir, ficando apenas o Príncipe Real. D. Pedro recusou-se a abandonar os seus súbditos e em vez de se abrigar, acorreu aos doentes e moribundos nos hospitais e nos cemitérios, onde confortou as famílias.

“O Santo”, o “Esperançoso”, o “Bem-amado” foram os cognomes com que a História o baptizou. Tal como a sua querida mulher, não viveu muito tempo, sucumbindo aos 24 anos e deixando o peso da coroa ao seu irmão D. Luís. Mas o seu espírito perdurou. Lisboa ainda se agita com as memórias do Príncipe Real, as suas conquistas e dedicação, a sua mente tão avançada para o seu tempo. A sua bondade e compaixão ainda vivem na suave brisa de verão que sacode as copas das árvores do Jardim do Príncipe Real.